Afinal, os jogos de computadores podem não ser tão prejudiciais como até agora se pensava.
Um professor universitário norte-americano defende no livro "Tudo o Que é Mau Faz Bem", lançada em Portugal no mês passado, que os jogos de computador têm tantas vantagens cognitivas como a leitura. Diz mais: são fundamentais no desenvolvimento da inteligência.
A importância dos jogos de computador no desenvolvimento intelectual das crianças é muitas vezes negligenciada em comparação com a leitura, por exemplo, mas aquela actividade traz tantos benefícios cognitivos como os livros, defende Steven Johnson, que se tem destacado nos Estados Unidos como um dos mais importantes investigadores da tecnologia digital. O autor defende que os jogos de computador exercitam diversas competências mentais e são fundamentais no desenvolvimento da inteligência.
Nas horas passadas à frente do computador, com os olhos pregados no ecrã e as mãos concentradas no teclado, as crianças e jovens são transportadas para um mundo animado de imagens e sons que controlam com complexos movimentos musculares, estimulando todos os córtexes sensoriais e motores.
O desenvolvimento da inteligência visual e da destreza manual é um benefício consensualmente reconhecido por pediatras e pedopsiquiatras, mas Steven Johnson garante que a importância destes jogos vai muito além da coordenação mão-olho.
Para o autor, a característica mais importante dos jogos de vídeo e computador é o facto de proporcionarem uma exploração interactiva, que obriga os jogadores a tomar decisões em permanência, seja para fugir a monstros que os perseguem ameaçadoramente, para construir civilizações imaginárias ou apenas para encaixar peças umas nas outras, a um ritmo cada vez mais rápido.
"Os romances podem activar a nossa imaginação e a música pode despertar em nós emoções fortes, mas os jogos obrigam-nos a decidir, a escolher, a definir prioridades. Todos os benefícios intelectuais dos jogos provêm desta virtude fundamental, pois aprender a pensar significa, em última análise, aprender a tomar as decisões certas", sublinha este professor universitário.
No mundo dos jogos de computador, sobretudo os de estratégia, as regras essenciais que permitem alcançar os objectivos não estão, na maioria das vezes, totalmente definidas antes de se começar a jogar e só se vão tornando claras com a exploração do jogo, à medida que a complexidade aumenta com a subida de nível.
Assim, os jogadores não consomem passivamente um fio narrativo, sendo eles próprios a definir o rumo dos acontecimentos e a planear as estratégias necessárias para alcançar as metas desejadas.
Por isso, o autor considera que nestes jogos "é tão importante o planeamento a longo-prazo como a concentração no presente", ao contrário dos livros, de que "podemos desfrutar sem nos concentrarmos explicitamente sobre onde a narrativa nos levará dois capítulos mais à frente". "Nenhuma outra forma de cultura popular envolve de forma directa os mecanismos cerebrais da tomada de decisão", conclui Steven Johnson.
Ao contrário do que possa sugerir esta apologia dos jogos de vídeo e computador em comparação com os livros, o autor, formado em literatura, não minimiza a importância da leitura na educação das crianças, considerando mesmo que esta deve ser cada vez mais encorajada pelos pais e pela escola por também estimular competências fundamentais como a imaginação, a memória ou a atenção.
A obra apenas destaca a importância para o desenvolvimento cognitivo e motor de formas de entretenimento muitas vezes criticadas por gerações mais velhas, defendendo que os jogos de computador têm sido injustamente discriminados, "em grande parte por terem sido postos em contraste com as antigas convenções da leitura".
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